Editorial: Privilégios concedidos pelo Congresso sabotam a reforma tributária

26 de outubro de 2023

A tão esperada reforma tributária, que deveria dar alguma racionalidade ao nosso tresloucado sistema de impostos, está virando um balcão de distribuição de privilégios. Corre o risco de manter e talvez até agravar o já caótico regime tributário do Brasil.

O texto apresentado no Senado concede isenções e reduções de alíquota a todo o grupo de interesse capaz de fazer pressão em Brasília. Prevê um regime de tributação específico para os setores de saneamento, concessões rodoviárias, transporte de passageiros, infraestrutura de telecomunicações e até agências de turismo.

Profissionais liberais, como advogados e médicos, pagarão uma alíquota 30% menor; empresas de comunicação institucional – como as que prestam serviço de marketing político – ganharam um desconto de 60%.

Ao ceder à pressão dos grupos de interesse, os parlamentares repetem os erros que criaram o atual monstrengo tributário brasileiro. A infinidade de regras, exceções, regimes especiais e incentivos de hoje não surgiu por acaso: foi resultado do lobby de grupos organizados e da disposição de políticos em atendê-los, sob prejuízo da população em geral.

Com esse comportamento volúvel do Congresso, a reforma tributária corre dois riscos:

O primeiro é o de aumentar a alíquota integral do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que incidirá sobre os produtos e setores que não foram agraciados pelos parlamentares. Como disse recentemente o ex-ministro Maílson da Nóbrega, “quanto mais aumentam as exceções, mais sobe a alíquota para os não beneficiados. Esse relatório [do Senado] só prova que o Brasil é um país de privilégios.”  Como os gastos do governo continuarão os mesmos, o favorecimento de alguns setores será bancado por mais impostos aos outros.

O segundo risco é o de manter o manicômio tributário atual. Isenções e reduções criam incentivos perversos para empresários. Continuará forte a tentação para empresas se enquadrarem num setor favorecido, a fim de pagar menos impostos. Essa atitude certamente será contestada por agentes da Receita, fazendo disputas tributárias proliferarem nos tribunais.

“A concessão de privilégios ameaça a grande vantagem da reforma tributária, a de uniformizar e simplificar o nosso sistema tributário”, afirma o ex-deputado federal Alexis Fonteyne, do NOVO de Campinas (SP). “Se os parlamentares cederem à pressão por privilégios, construirão uma geringonça que transformará todos os brasileiros em desprivilegiados.”

Confira outras publicações do Editorial da Semana

Compartilhe

VEJA TAMBÉM

Confira mais notícias do NOVO
Eduardo Girão convidou o ex-assessor de Alexandre de Moraes, Eduardo Tagliaferro, para prestar esclarecimentos sobre as ameaças que sofreu e as irregularidades cometidas pelo ministro do STF (créditos: reprodução).

Mensagens Vazadas de Tagliaferro e Irregularidades de Alexandre de Moraes: Senado Aprova Requerimento de Eduardo Girão para Realizar Audiência Pública

O ex-assessor do ministro de Alexandre de Moraes, Eduardo Tagliaferro, foi um dos envolvidos no caso das mensagens vazadas que demonstraram que Moraes cometeu irregularidades para perseguir desafetos de direita. Agora, Tagliaferro teme ser assassinado: para esclarecer as irregularidades do STF e as ameaças ao ex-assessor, o senador Eduardo Girão (NOVO-CE) convocou uma audiência pública, […]