
por Deborah Bizarria
A crise de representatividade que a política brasileira vive não se limitou às esferas convencionais; chegou aos movimentos estudantis tradicionais e às universidades. A participação da UNE no cotidiano do discente comum vai pouco além de ser o órgão que fornece as carteiras de estudante. Os DCEs em algumas instituições federais sequer foram eleitos devido a votação abaixo do quórum – quórum este extremamente baixo, que não é muito maior que 10% –, ou seja, a maioria dos alunos não participa das decisões da universidade.
Então de onde vem todo esse estardalhaço feito por estudantes em invasões? A participação em movimentos sociais virou algo exclusivo e somente para um grupo seleto de universitários de instituições públicas, que fielmente acreditam em tudo que seus líderes propõem e que agem de maneira bem articulada em diferentes instituições pelo país. Em suma, uma minoria barulhenta, muito barulhenta com um discurso contagiante e gritos de guerra bem ensaiados: “Recua, direita, recua, é o poder popular que tá na rua”.
Mais recentemente, creio ter descoberto sua estratégia de invasão (ou, como chamam, ocupação): o primeiro passo é marcar uma assembleia para o curso x a fim de discutir uma possível greve estudantil (afinal, por que alguém que não é o movimento iria para algo do tipo?), em seguida fazem uma votação, contando os braços levantados, para ver se há maioria para declarar greve estudantil e por último tentam invadir.
A maioria dos estudantes e dos professores vem a se dar conta do que aconteceu quando já é tarde demais – eles têm de abandonar aulas e pesquisas simplesmente porque um grupo, que se diz maioria, decidiu ter o monopólio da virtude estudantil, sem muita tentativa de diálogos no processo. A cena que se vê é bem triste, o campus com poucos alunos circulando, centros ocupados com panos pretos tapando portas e janelas e sempre alguém agindo como porteiro; seus “ocupantes” afirmam estarem abertos ao diálogo e à comunidade, na prática o que se vê é um grande clube.
A boa notícia é que surgiu resistência: grupos de estudantes que buscam alguma forma de garantir o direito à educação que lhes foi tirado em prol de uma suposta causa maior; essa resistência ainda é tímida e não muito numerosa. Alunos e professores começaram a questionar esse método de manifestação dado sua baixa eficácia, seus altos custos e maneira autoritária como as decisões de greve e invasão são tomadas. Definitivamente há algo novo no ar e que veio para ocupar esse vácuo representativo que reside na universidade e que veio para valorizar a mais importante minoria de todas: o indivíduo.
Deborah Bizarria é estudante de economia da UFPE.