
por Letícia Catelani
Você já pensou como seria lucrativo vender um produto sem ter concorrência, sem guerra de preços e sem precisar se preocupar com a qualidade? Isso é o protecionismo.
Enquanto poucos se beneficiam, muitos pagam caro por isso. O protecionismo gera ruína, explora e impõe severas perdas a população. É como um câncer, que a partir de uma única célula doente se espalha infectando setores saudáveis, comprometendo o funcionamento de todo o sistema. Existem dois tipos de protecionismo: o socialista, que estatiza os meios de produção e fecha o mercado para empresas estrangeiras; e o de compadrio, entre empresas e o poder público, que estabelece oligarquias e monopólios.
A Grã-Bretanha no século XIX vinha realizando grandes revoluções comerciais e industriais que deram à luz o mundo moderno. A indústria inglesa era desregulamentada e o país foi o pioneiro do livre comércio, transformou-se na oficina do mundo, dominando a economia mundial. Porém, a 1ª Guerra Mundial mudou tudo: surgiram ministérios para reger e controlar a economia e o governo estendeu seu controle sobre todos os aspectos da vida britânica. A indústria tornou-se fortemente regulada. Com o fim do conflito, acabaram-se as desculpas para a regulação estatal, muitas até foram desfeitas, mas não por muito tempo. Com a 2ª Guerra, a regulação aumentou ainda mais. A produtividade e a produção industrial despencaram, a escassez puxou os preços para cima. Para os consumidores comuns a vida tornou-se sombria, os bens encontravam-se indisponíveis, inacessíveis ou fortemente racionados.
Ao final da guerra, a Alemanha, grande derrotada, estava em ruínas e precisava de um verdadeiro milagre para se reerguer. Nas primeiras eleições livres no pós-guerra, Ludwig Erhard tornou-se Ministro da Economia e removeu completamente todos os controles estatais da produção industrial e regulações herdadas do Terceiro Reich. O plano do governo era ver sua indústria apoiar-se em seus dois pés, e os que não pudessem deveriam abrir caminho para os que podiam. Com medidas liberais a economia alemã tornou-se muito mais dinâmica, muito mais inovadora e, por fim, muito mais bem-sucedida. A produção industrial disparou – e a Alemanha se ergueu rapidamente das ruínas.
As medidas liberais tomadas pela Alemanha resultaram no aumento da oferta de bens, queda dos preços e melhoria acentuada dos salários. A Grã-Bretanha, que havia ganho a guerra, ainda estava imersa na pobreza, enquanto a Alemanha tornou-se a maior potência da Europa; o liberalismo transformou um país devastado na terceira maior potência econômica mundial. A Grã-Bretanha viu como uma alternativa à estagnação ingressar no Mercado Comum Europeu (MCE), já que seus vizinhos apresentavam resultados surpreendentes, o que inicialmente foi benéfico. Com o passar dos anos o MCE deu origem à União Europeia, que se tornava cada vez mais reguladora, trazendo estagnação ao bloco europeu – o que motivou a recente escolha dos britânicos pela saída (“Brexit”).
O maior entrave à cooperação entre países é a política; em particular, a pressão sobre cada governo feita por lobbies da indústria nacional para se proteger da concorrência. Medidas protecionistas protegem indústrias nacionais ineficientes que não se dariam bem num ambiente competitivo. Uma empresa que não se preocupa em inovar, que mantém o mesmo produto inalterado por muito tempo, recorre ao governo para manter seu marketshare quando empresas externas começam a vender um produto melhor no mercado nacional e seu lucro despenca. Uma empresa que se tornou ineficiente tem duas alternativas: modernizar-se ou escolher o caminho mais curto, qual seja, fazer lobbies para aumentar impostos e criar barreiras não tarifárias (BNTs) que restringem a quantidade de produto importado como as chamadas licenças de importação, em que se deve solicitar a autorização de agências reguladoras para importar um produto e cumprir com diversas exigências complexas, inteligentemente elaborados para dificultar a liberação de licenças. Barreiras a produtos importados resultam em aumento de preços desde matérias-primas a bens de consumo como TVs, laptops, sofás, eletrodomésticos, carros. Tudo resultará em aumento do custo de vida principalmente da população mais pobre, tornando proibitivo o acesso a muitos produtos.
O aumento de preço de uma única matéria-prima importada causa uma avalanche de aumentos nos mais variados setores da economia. A indústria de aço nacional diversas vezes recorreu ao governo para sobretaxar aço importado, medida que impacta em toda a indústria que depende deste material; a fabricação de pontes, carros, máquinas, geladeiras, peças automotivas, casas e qualquer obra de aço terá que repassar o aumento ao produto final. Concomitantemente, ao invés de termos uma indústria ineficiente, teremos muitas indústrias caras e pouco competitivas. Proteção ano após ano cria uma economia em crise e moribunda. Aos proteger negócios ultrapassados que naturalmente não conseguem competir, criamos estagnação na economia, pois sem competitividade não há incentivo à inovação. O livre mercado está aí para, de forma geral, nos livrar da fabricação de todo tipo de bem de consumo. Imagine como seria a sua vida se tivesse que fabricar seu próprio carro, plantar todo o alimento que consume, costurar sua própria roupa, construir sua própria casa, se tivesse que fazer tudo isso seu nível de conforto seria reduzido a níveis muito baixos e não te sobraria tempo para fazer o que realmente gosta. O protecionismo prejudica todo este processo, desta maneira impede que o padrão de vida da população aumente.
“Em todo país, sempre é e deve ser do interesse da grande massa do povo comprar tudo que deseja daqueles que vendam mais barato”. (Smith)
Deveria ser imperativo o direito de adquirir-se um bem ou serviço de quem pudesse oferecer o melhor de acordo com a necessidade individual. Para um amante de carros esportivos um Lamborghini é o ideal, para alguém que deseja um automóvel apenas para se deslocar de um local ao outro, um carro popular atenderá a necessidade. Não devemos coibir o acesso a nenhum destes bens, muito menos sobretaxar itens para reduzir o acesso. Protecionismo beneficia apenas os mais poderosos e empobrece toda uma nação.
Referências:
Hazlitt, H. (s.d.). Economia em uma Única Lição.
Smith, A. (s.d.). A Riqueza das Nações.
Reisman, G. (s.d.) Capitalism: A Treatise on Economics.
Boudreaux, D. (s.d) Não há argumentos econômicos contra o livre comércio – o protecionismo é a defesa de privilégios.
Letícia Catelani é formada em comércio exterior e empreendedora do setor industrial.