Ocupação ou invasão

03 de novembro de 2016

por Bruno Lemes

A linguagem é um terreno de disputa muito importante no embate político. Sem que se dê conta, às vezes são feitas concessões ao adversário ao ponto de lhe proporcionar uma vitória sutil porém duradoura, pois de aspecto cultural. Um caso exemplar e atual são as “ocupações” das escolas. Colou, todo mundo fala assim, está nos grandes jornais (TV inclusive), está até na boca de quem se coloca contra. Mesmo que as escolas sejam desocupadas (na falta da palavra “desinvadidas”) sem qualquer recuo do governo – portanto, uma derrota pontual da militância secundarista e sindicalista –, a generalização do conceito “ocupação” para descrever os atos já representa uma vitória na dimensão da linguagem, um avanço na agenda que prega a invasão de prédios públicos como instrumento de pressão política.

Prédio público também é invadido. É ocupado quando nele decorrem as atividades a que se destina. No caso das escolas, estão ocupadas quando ali se realizam aulas normalmente, ou seja, enquanto a finalidade daquele equipamento público é atendida. Invasão é a tomada violenta que interrompe e impede seu normal funcionamento. Tudo depende do caráter do ato. No caso em questão falamos, portanto, de invasão de escolas, mesmo que os invasores sejam alunos e professores ali matriculados e alocados. As escolas não pertencem a eles, por ser patrimônio comum de todo cidadão – isso, na verdade, numa visão romântica; talvez seja mais adequado pensá-las como propriedade estatal, apenas financiada involuntariamente por um corpo de cidadãos.

Precisamos resgatar a realidade, que via de regra é simples, popular. Mesmo um morador de terreno invadido (público, inclusive) geralmente o descreve como tal: “Moro ali na invasão”. Sem qualquer carga moralizante (afinal ele considera legítimo invadir), apenas respeitando a realidade das coisas. Que os entusiastas defendam as invasões das escolas e demais prédios públicos, mas pelo que são: invasões. Se são boas, justas e morais (spoiler: não são), não precisam de um eufemismo, de alterar a palavra para tornar o ato mais aceitável.


Bruno Lemes é graduando em Gestão de Políticas Públicas e redator de comunicação do NOVO.


Os textos refletem a opinião do autor e não necessariamente do Partido Novo.
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