
por Virginia Barbosa
“Elefante na sala” é aquele assunto urgente que as pessoas não querem reconhecer. O elefante da sala do Brasil, no momento, é o futuro do País.
O Brasil está vivendo atualmente uma crise econômica, institucional e moral. A única coisa boa das crises é que somos obrigados a olhar para dentro e pensar diferentes soluções. No caso, para um problema que vinha sendo evitando desde 2010: não nos organizamos e não sabemos o que queremos mesmo para o futuro, como nação, para o nosso País.
As origens desse problema são evidentes. Com o governo petista, desde 2003, o estímulo irresponsável ao crédito foi incentivado na população não havendo limites no horizonte. Mesmo sendo avisado que, a partir de 2010, era necessário tomar medidas mais austeras na economia para evitar uma “pequena” recessão, isso foi ignorado. Quando tudo está bem, em geral, quase não se questiona.
Não tomar responsabilidade pelas consequências de seus atos, porém, faz com que a vida útil de algumas soluções acabe mais rapidamente. Não se tomou medidas na economia. Resultado: temos a pior recessão da História brasileira, com 12 milhões de desempregados, sem nota das agências de risco e inflação na Lua.
As opções, na economia, são poucas e “malvadas”. No entanto, não se vê outra saída para não prolongar a crise. Com relação às instituições, estamos vendo os presidentes de cada Casa caírem em um ano, com interferências graves do Judiciário no Legislativo.
A crise moral decorre, na minha opinião, no fato que mencionei anteriormente: não planejamos ou pensamos em que tipo de país nos queremos viver. Penso que estamos apenas agora nos dando conta, no país como um todo, de que nós mesmos somos responsáveis por onde vivemos.
Olhando agora para a esfera do jeito de ser brasileiro, que é onde a crise começa, uma das soluções para a ressaca moral que vivemos, além de protestos pacífico nas ruas e denúncia nas mídias para colocar pressão nos políticos e autoridades, é, na minha visão, a melhora da qualidade do debate público.
Como Sérgio Buarque de Hollanda apontou, o brasileiro é movido a sentimentos. Recebemos críticas muito mal, mesmo sendo feita de forma profissional, pensando que estam nos ofendendo pessoalmente. Acho que está é uma das principais razões pelas quais não temos tanto debate público entre visões opostas sobre os mais variados temas.
O debate de ideias é importante para que um povo se conheça e conheça outras ideias. Sem debate, ficamos isolados em bolhas, ouvindo apenas o que nos convém, e prejudicando nossa forma de pensar.
Olhando de forma pragmática, é urgente que mais pessoas raciocinem os problemas das suas próprias cidades, bairros, pois o governo sozinho não consegue resolvê-los. É preciso que as pessoas se unam para discutir, debater soluções junto dos governos municipais e estaduais, pois toda força é necessária.
Esse sentimento de união e solidariedade, talvez inédito na escala que é necessária num país do tamanho do nosso, é necessário mais do que nunca, e o debate é fator importantíssimo para achar as soluções. No entanto, para que ele ocorra, é preciso deixar o sentiment infantil de levar tudo para o lado pessoal e debater como fazem em países como Estados Unidos e Inglaterra. Nesses países, o debate e crítica formal é algo banal, que fazem há séculos. Não vejo porque não podemos começar essa tradição aqui no Brasil também. A hora é agora.
Virginia Barbosa é jornalista e produtora, formada em Relações Internacionais pelo IBMEC.