
por Diogo da Luz
Antônio Proost Rodovalho, paulistano e grande brasileiro, lutou na Guerra do Paraguai e conquistou a patente de Coronel. Homem probo, respeitado e trabalhador, fez fortuna, foi dono da Fazenda Caieras, que deu origem à Cia. Melhoramentos de Papel e Celulose, fundador da Associação Comercial e outras tantas atividades. Altruísta, participou de diversas Irmandades. Teve o privilégio de viver o Brasil imperial e o republicano.
Até meados do século 19, as pessoas eram enterradas nas paróquias. No caso de São Paulo, principalmente na Irmandade Santa Casa de Misericórdia, que nada cobrava pelo serviço, embora aceitasse doações dos familiares. A distância entre o jazigo e o altar variava na proporção inversa do valor doado, que era revertido aos serviços de benemerência. Com a inauguração dos primeiros cemitérios no país, o imperador, alegando razões sanitárias, proíbe enterros paroquiais, trazendo grande preocupação ao Coronel Rodovalho, provedor da Santa Casa, que perderia importante fonte de receitas. Em seguida a Câmara Paulistana, presidida pelo Coronel Rodovalho, institui o monopólio dos cortejos fúnebres em favor da Santa Casa, que, não tendo expertise no trato de cavalos e carruagens, concede a exploração dos cortejos à empresa de seu filho, conhecida como Casa Rodovalho. Com isso estavam viabilizados os cemitérios e as receitas da Santa Casa. À nova funerária, que prestava bons serviços à comunidade, restava um ganho compensador.
Em 1918, vem a mortífera gripe espanhola, sobrecarregando a Casa Rodovalho, com o consequente aumento dos preços. A prefeitura, já não contando com expressiva influência do Coronel, tabela os preços dos cortejos e decreta serviço “gratuito” aos necessitados. Ainda estabelece que somente familiares poderiam participar dos funerais. Gradualmente os lucros vão minguando e o negócio deixa de interessar aos empreendedores, até que a prefeitura resolve desapropriar a empresa, transformando-a na autarquia Serviço Funerário Municipal, cuja qualidade, o paulistano bem conhece.
A trajetória do meu trisavô, em nada difere da de tantos outros ilustres brasileiros, muitos honrados como ele, atrelados à ética e à lei, outros nem tanto, mas, invariavelmente, numa trança entre público e privado, deixando o cidadão num plano inferior. Essas práticas geraram desde o império um círculo vicioso de centralização de poder, com raros e curtos momentos inversos. Alguns culpam os portugueses ou o ditador Getúlio Vargas, outros o regime militar ou mesmo os últimos governos do PT. Concordo com todos e não me ocorre sequer uma medida de peso que tenha sido pautada a partir do interesse do cidadão, colocando-o acima de tudo e como ponto inicial do raciocínio, lembrando que cada um de nós é um indivíduo, nem mais, nem menos que qualquer outro.
E lembrando dois temas recém introduzidos na pauta nacional, estamos discutindo os problemas da previdência a partir do caixa do INSS, sem antes refletir sobre o modelo ideal de aposentadoria. Temos debatido a redução de cadeiras no congresso, sem questionar a melhor forma de representar cada cidadão brasileiro.
A história do avô da minha avó retrata a história do Brasil de ontem e de hoje. Que seja diferente no Brasil de amanhã.
Diogo da Luz é empresário e foi candidato a vereador em São Paulo pelo Partido Novo