
Por Deborah Bizarria
No mês da Consciência Negra, novembro, as redes sociais foram o palco de várias discussões interessantes – e de algum modo, preocupantes. O que mais me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas, das mais variadas vertentes políticas, que chamaram o vereador eleito Fernando Holiday de “capitão do mato”, por causa de seu posicionamento anti-cotas raciais. O mesmo tinha sido feito anos antes, por outros motivos, contra o Ministro do STF Joaquim Barbosa.
Por que algumas pessoas que dizem defender direitos e igualdade de oportunidades para a população negra são as mesmas a chamarem alguns negros de “capitães do mato”? Chamar alguém de um nome pejorativo por causa da cor de sua pele não “combinar” com sua politica é o quê, se não racismo em sua forma mais pura? Quem discorda da agenda pré-definida é visto como fantoche ou empregado da elite, por ter um posicionamento diferente daquilo que alguns acham que sua raça deve pensar.
Chamar alguém de capitão do mato é racista porque atribui certas posições a certas raças, desmerecendo a inteligência individual. No mais, quem disse que existem raças estanques no Brasil? Acredito que por trás desse comportamento existam duas premissas no mínimo questionáveis: 1) A de que há uma “guerra” entre negros e os brancos. 2) A raça ou cor de pele de alguém deve ter um papel importante na sua concepção de mundo.
Somos uma nação de mestiços. Não há clareza a partir de que ponto um indivíduo deixa de ser branco e passa a ser pardo ou deixa de ser pardo e passa a ser preto. Felizmente não há medidor de melanina ou de encaracolamento de cabelos que dê conta disso. Em cada um de nós há menos ou mais traços de cada um dos povos que formaram o Brasil.
Quanto à segunda premissa, a raça/cor de um individuo deveria ser importante para seu posicionamento em várias questões? Não acredito que seja o que aspiramos como nação, dividir as pessoas em categorias raciais e que essas categorias influenciem todo o resto da constituição pessoal. Uma pessoa deve poder escolher sua posição política, sua profissão, seu caminho na vida independentemente da sua cor ou qualquer outro critério que não sua própria aptidão e desejo.
A ancestralidade pode e deve pertencer à história de alguém, entender quais são nossas origens, as origens de nossa família é algo importante, mas que não precisa determinar nosso futuro. No fim, eu, mestiça assumida, compartilho do mesmo sonho de Martin Luther King: o sonho de ver nossos filhos julgados pela sua personalidade, e não pela cor de sua pele.
Deborah Bizarria é estudante de Economia na UFPE.
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