
por Vicente Rondon
O conhecimento é o principal ingrediente para a criação de riqueza e para o desenvolvimento econômico. Há, de fato, uma disseminada convicção de que o poder econômico dos países depende de seus futuros empresários e da competitividade de seus empreendimentos. Sendo que o conhecimento se materializa através daquilo que, até por ser inerentemente imprevisível, denominamos de inovações. Novos produtos surgem aparentemente do nada. Eles surgem principalmente através de pessoas que ousaram divergir e se distanciar das maneiras tradicionais de se pensar e de se fazer as coisas, ou seja, de ir além do senso comum.
Nenhuma pessoa ‘encomendou’ a energia elétrica a Tesla ou Edison. Ninguém solicitou a Steve Jobs que criasse um iPhone. De fato, Henry Ford costumava dizer: “se eu tivesse perguntado aos meus clientes o que eles queriam, teriam dito que era um cavalo mais rápido”. E é difícil prever que inovações estão por vir, pois elas surgem da síntese de todo um conhecimento acumulado, como exemplarmente descrito na célebre frase de Isaac Newton: “Se eu vi mais longe foi por estar sobre ombros de gigantes”.
Um ambiente propício à inovação é sustentado por dois elementos básicos: EDUCAÇÃO e LIBERDADE, que se traduzem na expansão da informação, do conhecimento, dos lucros e da criatividade, e que aprimora as qualidades humanas, além de proporcionar maior riqueza material. E a combinação de EDUCAÇÃO e LIBERDADE gera um ciclo virtuoso que funciona da seguinte maneira: mais liberdade gera mais conhecimento; mais conhecimento gera mais inovação; e mais inovação leva a um crescimento econômico dinâmico.
Mas como fazer florescer esse ciclo virtuoso em nossa sociedade? Como convencer a população que é quem, em última instância, num sistema democrático, julgará qual o caminho a ser seguido pela sociedade?
Sabemos que — e há uma infinidade de exemplos históricos a esse respeito— não há garantia de que as boas ideias serão aceitas pela sociedade, bem como de que as más ideias serão rejeitadas. E não podemos culpar apenas a sociedade quando as más ideias são eleitas, mas também — e principalmente — os pioneiros, arautos e disseminadores das ideias benéficas, por não terem tido êxito em apresentar seu pensamento de uma forma mais clara, incisiva e convincente.
Nesse sentido temos vivenciado uma total aridez, no que diz respeito ao debate virtuoso que possibilitaria a transformação de nosso país em uma celeiro de ideias inovadoras, de empreendedorismo e desenvolvimento econômico. O brasileiro possui um irracional atavismo à matéria física, vinculando-a injustificadamente à nossa soberania nacional e a uma panaceia para todos os males do país: no início do século passado ao minério de ferro e em seguida ao aço, na figura da CSN (que foi privatizada sem qualquer impacto sobre a nossa soberania). Posteriormente em meados do século, ao petróleo, através da recém-dilapidada Petrobrás. Na década de 1990, foi criada a Lei de Informática que representou um atraso sem precedentes ao desenvolvimento da informática em nosso país. Aparentemente não aprendemos nada com o passado, pois o debate atual passa por — pasmem — soberania sobre o grafeno e o nióbio, como se a simples posse desses materiais fosse mais importante do que o domínio das tecnologias que viabilizarão a sua aplicação.
Ao invés do apego patrimonialista a um mineral recém-descoberto, cabe a nós brasileiros, nesse momento, preparar-nos para a novas megatendências e inovações que incluem, dentre outros, a internet das coisas, a inteligência artificial, a nano e a biotecnologia, a robótica, a impressão 3D, a realidade virtual e aumentada, a introdução do bitcoin e do blockchain, etc.
E somente através da disseminação da liberdade, reduzindo e direcionando o estado a suas funções vitais, como educação e saúde, é que poderemos criar as condições de capitalizarmos os benefícios do novo ciclo de inovações que se aproxima já na próxima década.
Vicente Rondon é economista, consultor de empresas, professor, músico e filiado do NOVO.