A classe política e nosso papel

09 de fevereiro de 2017

por João Amoêdo

narizdepalhacoO projeto em análise no Congresso que retira a punição aos partidos políticos que não tiverem suas contas aprovadas  é um absurdo completo, um desrespeito a todo brasileiro que contribui coercitivamente com todos os partidos através do Fundo Partidário. Entretanto, apesar de causar uma grande revolta e indignação, ele não surpreende.

Essa proposta só comprova o que temos hoje na política: pessoas na maioria das vezes despreparadas, mas que encontraram um lugar onde aptidões como boa oratória e alguma dose de cinismo e carisma as permite ter um padrão de vida muito superior ao que desfrutariam se estivessem atuando na iniciativa privada, com a mesma carga de trabalho. É natural, portanto, que a perpetuação em cargos eletivos seja o objetivo principal da grande maioria, custe o que custar, especialmente porque o custo é nosso e não deles.

Nesse contexto, o que temos não são representantes de valores – partidos  que se dividem entre visões diferentes para o País – ou pessoas prioritariamente preocupadas em melhorar a vida dos brasileiros ou com os rumos da nação. O que temos, de fato, são indivíduos que concorrem entre si na busca por espaço e poder, mas solidários em todas as medidas que os protejam de ameaças externas, que possam colocar em risco a continuidade dos cargos que ocupam.

É com essa lógica de proteção e perpetuação que se distribuem os cargos no governo; criam-se dificuldades para a criação de novos partidos; triplica-se o fundo partidário; são propostas leis absurdas como descriminalização do caixa 2 e outras como a supramencionada; impede-se a redução do escopo de atuação do Estado; estabelecem-se privilégios para certos grupos – sempre às custas da maioria silenciosa; e que se aumenta, permanentemente, a carga tributária.

O resultado final disso tudo é bastante conhecido: trabalhamos 5 meses do ano apenas para pagarmos os impostos que sustentam essa máquina, que mesmo assim ainda é deficitária, temos a nossa liberdade continuamente reduzida e serviços públicos de péssima qualidade que ainda se deterioram.

Este modelo veio se consolidando ao longo dos anos. Nossos representantes compensam o que lhes falta de competência de gestão e ausência de valores com uma grande capacidade de atuar/representar. São mestres na arte de prometer, de encontrar desculpas e culpados para o que não funciona, de vender soluções para problemas que eles mesmos criaram e de nos fazer acreditar que estão agindo sempre para nos atender de forma gratuita. Infelizmente, nossa tradição de acreditar que alguém deve resolver os nossos problemas e de que devemos ter um salvador da pátria foi um terreno fértil para este avanço.

Mas tudo isso está mudando. A explicitação de um modelo falido, com a crise econômica, o caráter de muitos políticos demonstrado pelas delações da Lava Jato, o acesso mais direto e transparente às informações e o protagonismo de qualquer pessoa através das mídias digitais têm sido os propulsores dessa transformação.

Contudo, ainda há muito por avançar. Precisamos nos envolver mais na política; tornar o NOVO mais conhecido; convencer pessoas admiradas que chegou a hora de se candidatarem; ter partidos políticos que sigam princípios e valores e sobrevivam sem recursos públicos; acreditar que somos capazes, que não dependemos de protetores, mas apenas do nosso trabalho e que só assim todos – especialmente os mais pobres – terão uma qualidade de vida melhor.

O objeto ilustrado acima representa o que cabe a cada um de nós decidir em 2018: usá-lo ou não, ou seja, se vamos abandonar esse papel ou continuarmos a ser vistos assim pela classe política.


João Amoêdo é presidente do diretório nacional do NOVO.


Os textos refletem a opinião do autor e não necessariamente do Partido Novo.
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