Breves questionamentos e o Escola Sem Partido

7 de agosto de 2017

por Márcio Andrade

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“Quando você quer ajudar as pessoas, você diz a verdade a elas; quando você quer se ajudar, você diz a elas aquilo que querem escutar.” (Thomas Sowell)

O episódio aconteceu ano passado numa das escolas em que trabalho como professor de Português e Literatura. Estava saindo da aula, caminhando pelo corredor, quando passei em frente a uma turma de Ensino Fundamental (8° ano) e ouvi a voz ecoante do professor de história:

“Capitalismo é a ferramenta opressora que coloca vocês na miséria, tornando os ricos cada vez mais ricos; ele é um grande mal para a sociedade e o representante disto aqui no Brasil é o PSDB”.

Num primeiro momento surgiu-me a perplexidade, imaginando qual seria o impacto daquelas palavras no livre-pensar de uma criança, outrossim, que razões levariam o docente a albergar este tipo de colocação no íntimo da sala de aula.

Será que exibir sua opinião partidária – como se fosse item de ementa obrigatória – constitui ensino libertador, representando uma educação reflexiva?

Depois, veio aquele desconforto, pois acredito que o professor deveria ensinar seus alunos a pensarem por si mesmos, refletindo na base da argumentação sólida, buscando o crescimento intelectual por intermédio da lógica, da experimentação e, invariavelmente, do bom senso. Aspectos que não percebi naquele desolador palavrório aos jovens.

Se o papel do professor é fornecer subsídios aos alunos para que formem suas próprias convicções, propor indagações críticas sobre os mais variados temas (científicos, econômicos, sociais, políticos, etc.), qual a razão do ‘achismo partidário’ em sala de aula? Por que esvaziar a ciência para fortalecer o ativismo ideológico?

Quando um professor entra na sala para dizer que ‘determinado partido é bom, enquanto outro é mau’, não temos uma distorção do verdadeiro papel a ser exercido dentro do educandário?

Desta forma o projeto Escola Sem Partido (ESP) pode não ser ideal, mas já é um começo para que possamos debater a respeito dos conteúdos que estão sendo ensinado nas escolas.

Não deveria existir problema em questionar as temáticas trabalhadas na sala de aula, mas temos assistido ao triste espetáculo interpretado pelo professorado que não permite sequer tocar-se no assunto. Será democrático obrigar pais e alunos a não falarem sobre um tema que envolve diretamente o interesse deles?

Comunidades evoluídas educam seus filhos para a liberdade intelectual, constroem conhecimento a partir da busca pela verdade, pela edificação lógico-moral do saber, assim, neste sentido, parece-me que estamos bastante à margem do caminho.

Obviamente há professores comprometidos com uma proposta pedagógica libertadora e democrática, não obstante, devo reconhecer como bem-vindo todo projeto destinado a refletir o papel da escola na atualidade.

E, de alguma forma, o ESP convida-nos ao exercício dialético. 

Afinal, o que é doutrinação ideológica nas escolas? Isso existe de fato? Como tem sido praticada? Quais são seus efeitos?

Deixemos de lado os preconceitos intencionalmente criados pela ideologia oficial, e criemos (o mínimo de) consciência para retirar as mordaças impostas pelo status quo. Hoje, não é possível discutir escola de qualidade sem a coragem para enfrentar este assunto.


Márcio Andrade é professor de escola pública estadual e municipal e filiado ao NOVO.


Os textos refletem a opinião do autor e não, necessariamente, do Partido Novo

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