Editorial: Falas desastradas de Lula beneficiam os “gananciosos”

3 de novembro de 2023

Lula afirmou na sexta-feira passada que “o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida”. Fato raro, o presidente está certo num ponto: investidores de fato ambicionam que seus investimentos rendam o máximo possível. Mas as falas desastradas de Lula dão ainda mais oportunidade a essa ganância.

Investidores pesam risco e retorno: só aceitam investir num título de dívida se a taxa de juros compensar o risco de um calote. Cada vez que Lula abre a boca para desferir seu negacionismo econômico e deixar claro que não tem compromisso com o equilíbrio das contas, fica mais difícil acreditar que a dívida deixará de crescer. O risco aumenta – e com ele as taxas de juros dos títulos públicos.

As tolices proferidas pelo presidente acabam aumentando o custo da dívida e prejudicam a política fiscal. São pura autossabotagem. Nisso concordam jornais brasileiros de diferentes correntes políticas, como a Folha de S. Paulo e a Gazeta do Povo, que recentemente publicaram editoriais com o mesmo título: “Lula sabota o país”. Essa concordância mostra que Lula contraria o básico, o consenso sobre a condução econômica.

Na tentativa de justificar seu desprezo ao corte de gastos, o presidente insiste em afirmar que há um conflito irreconciliável entre os interesses do povo pobre e do mercado financeiro. Desse ponto de vista, o que é bom para “o mercado” seria ruim para os pobres; do mesmo modo, para ajudar os pobres o presidente teria que punir ou incomodar “o mercado”. Mas esse conflito é falso.

Para terem crescimento econômico sustentável, diminuição do desemprego e aumento da renda, países precisam de mercados de capitais sólidos e previsíveis. Altas da bolsa de valores são em geral acompanhadas de boas notícias na redução de pobreza. Pois a prosperidade melhora a vida de todos: tanto grandes acionistas quanto os mais pobres (e principalmente eles). Ao contrário da visão de luta de classes que petistas costumam difundir, os brasileiros estão todos no mesmo barco: se o país vai bem, todos se beneficiam.

Outra falácia que Lula utiliza para justificar sua gastança é a de que o aumento do gasto público ajuda os pobres. Bem, se isso fosse verdade, um enorme avanço social teria ocorrido na última década. Afinal, o Brasil foi o país que mais aumentou o gasto público em relação ao PIB nesse período.

O que ocorreu, entretanto, foi o contrário: enquanto o gasto público aumentou, a redução de pobreza patinou. Tivemos uma década perdida em conquistas sociais.

Ao contrário do que afirma o presidente, o que mais ajuda os pobres é o crescimento econômico duradouro. E o crescimento depende de confiança. O temor de uma crise das contas públicas faz com que empresas invistam menos, adiem projetos de ampliação de negócios e de criação de vagas de trabalho.

É por isso que, quando o presidente assusta o mercado com seus disparates, os mais prejudicados são os brasileiros mais pobres.

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