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Editorial: Dilma 3
Durante as eleições de 2022, os observadores mais otimistas acreditavam que Lula faria um mandato similar ao seu primeiro governo, que seguiu a ortodoxia econômica de FHC e puxou o freio nos gastos públicos. Mas o presidente optou por seguir um exemplo desastroso: o de Dilma Rousseff.
Cada vez mais o terceiro mandato de Lula se parece com o segundo de Dilma. A semelhança mais evidente é o descuido com as contas públicas. Depois de o governo fechar 2022 no azul em R$ 122 bilhões, em 2023 Lula e Haddad criaram um rombo de R$ 230,5 bilhões.
É o segundo maior déficit da história sem contar o ano de 2020, quando a pandemia forçou o Brasil e outros países a gastos extraordinários. Perde apenas para 2015, quando Dilma e Mantega produziram um resultado negativo similar: 230,6 bilhões (em valores corrigidos pela inflação).
Mesmo se descontarmos o pagamento antecipado de precatórios, que por decisão do STF ficam de fora do limite de gastos, o saldo negativo deste ano é de R$ 138 bilhões. A curva que se desenha parece ser a mesma do período entre 2011 e 2016, quando as contas passaram do azul para o vermelho em poucos trimestres.
Durante o governo Dilma, boa parte da gastança se destinou a grandes empresários que prestavam favores ao governo. Via empréstimos subsidiados do BNDES, a presidente destinou centenas de bilhões a seus compadres, sob o pretexto de fortalecer a indústria nacional. É o que Lula, conforme anunciou na semana passada, planeja fazer.
Além de sucumbir à tentação do gasto público, Lula tem protagonizado retrocessos no combate à corrupção. O aparelhamento de estatais, o desmonte de regras de governança e a tentativa de reabilitar empreiteiras condenadas na Lava Jato provocaram uma piora no índice de percepção da corrupção. A Transparência Internacional divulgou esta semana que o Brasil caiu dez posições no índice. Agora está na 104ª posição entre 180 países.
Há, porém, duas diferenças fundamentais entre este Lula e Dilma 2. O governo atual ainda não pode mexer no presidente do Banco Central, o que o impede de adotar uma política monetária irresponsável como a dos anos 2010. Essa “vantagem” de Lula deve deixar de existir em dezembro, quando o presidente enfim poderá nomear seu escolhido para o BC.
A segunda diferença é que o Judiciário, desta vez, está inteiro do lado do presidente. A opinião pública ainda não faz pressão suficiente para que integrantes do STF deixem de apoiar Lula e passem a impedir os atentados do presidente à democracia brasileira e à luta contra a corrupção. Enquanto os resultados da política econômica não ficarem evidentes e a sociedade civil não der o seu recado, esse conchavo deve continuar.
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