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Editorial: O Banco Central sabe o que faz
A semana começou com uma boa notícia: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sofreu uma leve retração de 0,08% em junho. A queda da inflação abre espaço para a tão esperada queda dos juros e confirma a importância da autonomia do Banco Central para blindar a política monetária do populismo.
Sob ataque contínuo de Lula, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, seguiu firme em suas decisões técnicas e manteve o patamar de juros. Agora os resultados positivos aparecem. A inflação galopante deu lugar a uma deflação leve, e a redução responsável da taxa Selic já aparece no horizonte.
No longo prazo, alguns meses de cautela e ortodoxia se justificam. O importante é assegurar a estabilidade dos preços para que os juros possam cair de forma contínua e consistente.
Costuma-se dizer que Lula tem sorte: seus mandatos coincidiram com a alta do preço das commodities e ondas de recuperação da economia. Neste mandato, o maior fator de sorte de Lula – aos menos até agora – foi a impossibilidade de se intrometer na política monetária.
Se pudesse ter trocado o presidente do Banco Central e baixado os juros na marra, como gostaria de fazer, Lula prejudicaria seu próprio governo. Uma queda apressada e irresponsável da taxa de juros neste começo de mandato só resultaria em inflação mais alta e, para contê-la, taxas mais altas no fim do mandato.
A autonomia do BC poupou Lula de jogar o Brasil numa crise similar à do segundo governo Dilma. Em 2012, Dilma baixou os juros a 7,25%. O resultado foi o retorno da inflação e da necessidade de subir novamente a Selic. Em 2016, quando Dilma foi afastada, a taxa de juros havia voltado a 14,25%, a maior desde 2006.
A sorte de Lula, porém, pode acabar em dezembro de 2024, quando termina o mandato de Campos Neto. A partir de então, Lula indicará o próximo presidente do Banco Central. Os economistas mais cotados para assumir o cargo inspiram pouquíssima confiança.
Gabriel Galípolo, recém-empossado diretor de Política Monetária do BC, não parece ter grande entendimento do controle de preços. Em abril de 2020, co-assinou um artigo que defendia a tese de que o maior volume de emissão de moeda não resultaria em inflação. “Estamos longe dela agora e no médio prazo”, diz a previsão que se mostrou um completo equívoco.
Se o presidente Lula quiser ajudar a valorizar o Real e diminuir a taxa de juros, precisa controlar sua incontinência verbal. Melhor ainda seria se desse sinais de que seguirá o básico de uma política econômica responsável.
Os ataques de Lula à autonomia do Banco Central fragilizam não só a economia, mas a democracia brasileira. Dão marretadas num alicerce institucional que tem se revelado importantíssimo para o país – e que foi construído democraticamente pelo Congresso. Em vez de esbravejar contra Campos Neto, Lula deveria aceitar as regras do jogo – e agradecer por ter recebido de graça uma excelente condução da política monetária.
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