Editorial: Quem vai proteger o STF de seus atuais ministros?

14 de setembro de 2023

Ministros do Supremo Tribunal Federal costumam reclamar de extremistas que “geram animosidade dentro da sociedade brasileira”, “atacam as instituições do Judiciário” e “promovem descrédito dos Poderes da República”. Esquecem-se alguns ministros que eles próprios também são responsáveis por desrespeitar e ameaçar a reputação do STF, uma das instituições mais relevantes da nossa democracia.

A sociedade brasileira vem colecionando exemplos de inquéritos de ofício que lembram os de ditaduras, perseguições, decisões politizadas que claramente contrariam a Constituição e relações pouco transparentes entre ministros do STF e os escritórios de advocacia de seus familiares. Mais um item para essa coleção surgiu na semana passada, quando o ministro Dias Toffoli anulou todos os atos da Justiça tomados a partir do acordo de leniência da Odebrecht.

Como afirmou o jornal “O Estado de S. Paulo” em editorial, o ministro aproveitou a decisão para praticar puro revisionismo histórico. Tratou a Lava Jato como “armação fruto de um projeto de poder” com o objetivo de “colocar um inocente como tendo cometido crimes jamais por ele praticados”.

Sim: apesar das inúmeras provas e confissões, apesar da própria Odebrecht ter publicado nos jornais um pedido de desculpas à sociedade brasileira, Toffoli considerou Lula inocente e os escândalos da Petrobras pura invenção. Também esqueceu de mencionar que o acordo de leniência da Odebrecht, assim como diversos outros passos da Lava Jato, haviam sido referendadas pelo próprio STF.

Pior ainda, Toffoli citou em sua decisão a suposta falta de formalização de acordos de cooperação jurídica internacional com a Suíça e o acesso teoricamente clandestino dos investigadores da Lava-Jato aos sistemas de pagamento de propina da Odebrecht. 

Ocorre que, dias depois da decisão, o Ministério da Justiça voltou atrás e afirmou ter encontrado a formalização dos acordos de cooperação, o que contraria a posição de Toffoli de que as provas da Lava Jato foram obtidas ilegalmente. À luz desse novo fato, só resta ao ministro rever sua descabida decisão – caso queira resgatar algum mínimo de respeitabilidade da Corte. 

É preciso separar indivíduos da instituição. Criticar e denunciar os ocupantes das cadeiras do STF não equivale a atacar a instituição. Pelo contrário, para que a Suprema Corte brasileira inicie um longo processo de recuperação de sua credibilidade, é urgente exigir a moralização da conduta de seus magistrados.

A sociedade brasileira deve proteger o Supremo Tribunal da atuação pouco transparente, perdulária, instável e politizada de seus atuais representantes.

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