Educação e mercado explicam sucesso americano nas olimpíadas

10 de agosto de 2024

A cada quatro anos, países de todo o mundo enviam seus melhores atletas para competirem nos jogos olímpicos. No Brasil, o patriotismo emerge e faz com que pessoas de todas as regiões abram exceção à tradicional atenção dada ao futebol para torcerem por nossos atletas em esportes não tão populares no cotidiano, como o tênis de mesa, o atletismo e o tiro ao arco.

Com a mesma frequência, o debate público é tomado pela pergunta: o que o Brasil precisa fazer para trazer mais medalhas nas olimpíadas? Estamos oferecendo aos nossos atletas, cujo talento é inquestionável, estrutura e suporte para competir em alto nível?

A pergunta costuma vir acompanhada pela resposta, que já se tornou um clichê, de que “precisamos de mais incentivo”. O esporte, enquanto política pública, segue a mesma mentalidade que predomina em outras áreas, como a arte e a cultura, e se traduz em “precisamos de mais dinheiro público na área”. É a solução padrão no país, fruto de uma mentalidade incapaz de pensar qualquer problema social para além do funcionamento do Estado. Não há dúvida de que os atletas precisam de apoio para alcançarem o alto desempenho. A questão é como conceber fontes alternativas de recursos, já que o dinheiro público, em um país ainda pobre como o nosso, não dá conta de suprir as necessidades básicas dos cidadãos, quem dirá de financiamento ao esporte.

O país que ocupa o topo do quadro de medalhas em Paris pode servir de inspiração para modelos alternativos de gestão e financiamento do esporte olímpico. Os Estados Unidos são uma potência olímpica. Historicamente, os americanos acumulam mais de 1000 medalhas de ouro e 2600 medalhas no total, liderando por larga vantagem numérica sobre os outros países. O variado biotipo da população do país é um dos fatores que explica a presença constante de americanos no pódio, possibilitando um suprimento constante e diverso de atletas para todas as modalidades. A riqueza também é um elemento relevante , pois permite dispor de mais infraestrutura e centros de treinamento disponíveis no país, que se tornou um polo que atrai talentos do mundo todo. Mas é na  convergência entre esporte, educação e mercado que encontramos a fórmula do sucesso desportivo americano. 

O esporte faz parte da vida dos norte-americanos desde a infância, que são incentivados a participarem  das atividades de educação física na escola como parte fundamental da composição de um currículo completo para entrar no ensino superior. As crianças que se destacam encontram uma possibilidade concreta de seguirem para a universidade como atletas-estudantes, graças à NCAA. Sigla para Associação Atlética Universitária Nacional, a NCAA é uma entidade sem fins lucrativos que existe desde o início do século XX para organizar o esporte universitário no país. Ela coordena competições de dezenas de modalidades esportivas, incluindo as principais olímpicas, além de distribuir bolsas de estudo para os atletas. Ao invés de deixar os estudos para se dedicar ao esporte, como acontece com muitos brasileiros que tentam a sorte como jogadores de futebol, os jovens atletas americanos têm nas universidades o caminho para a profissionalização. Nelas, encontram infraestrutura de ponta, com treinadores e campeonatos de alto nível. E, para receberem as bolsas, precisam comprovar desempenho acadêmico satisfatório. 

Quem está acostumado à forma como as coisas acontecem no Brasil, deve perguntar-se quanto a NCAA recebeu do Ministério do Esporte americano para suas operações. Ficaria surpreso em saber que esse ministério  sequer existe nos Estados Unidos. A arrecadação de 1,29 bilhão de dólares em 2023 é fruto da organização das próprias competições, em particular dos direitos televisivos para o campeonato universitário de basquete. A NCAA entende que precisa produzir e vender um produto para gerar os recursos operacionais. Também não há restrição em aceitar patrocinadores, como a Coca Cola e AT&T. Compare com quase 1 bilhão de reais do orçamento do nosso Ministério dos Esportes em 2023, oriundos exclusivamente dos impostos pagos pelos brasileiros, e podemos ver as limitações do nosso modelo. É bom lembrar que, diferente do que acontece por aqui, o controle da NCAA não pode ser negociado pelo presidente americano em troca de apoio no Congresso. 

Nos Estados Unidos, o atleta tem um caminho claro a seguir em busca do desenvolvimento das suas habilidades, desde a escola até a universidade. Caso não consiga seguir carreira no esporte, pode se amparar na educação universitária de ponta que recebeu ao longo do caminho. Enquanto isso, o esporte universitário brasileiro ainda é discreto. A CBDU, Confederação Brasileira do Desporto Universitário, com um orçamento de 48 milhões de reais em 2023, organiza jogos universitários pelo país, mas não tem o alcance e a estrutura de sua contrapartida americana. Não temos a tradição do estudante-atleta no Brasil, tampouco acompanhamos e torcemos pelo esporte universitário. Enquanto a NCAA enviou mais de mil atletas para Paris, apenas 33 atletas que passaram pela CBDU vestiram o verde amarelo nestas olimpíadas. 

Hoje, o esporte brasileiro compete com saúde, educação,  segurança,  infraestrutura, e até com o desperdício e a corrupção pelos mesmos recursos públicos do Estado brasileiro. É difícil imaginar qualquer melhora significativa enquanto os incentivos dependerem da nossa insustentável máquina pública. Os Estados Unidos podem servir de inspiração para pensarmos uma alternativa capaz de dar aos nossos atletas o suporte que precisam para brilhar no pódio olímpico.   

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