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Editorial: Não há equivalência moral entre Israel e o Hamas
Jornalistas e formadores de opinião brasileiros estão embarcando na ideia de que há uma equivalência moral entre Israel e o Hamas. Segundo essa visão, é difícil saber quem está certo no conflito pois os dois lados cometeriam crimes similares. Essa equivalência moral é falsa.
O Hamas é inspirado pela noção de responsabilidade coletiva: mira judeus como um todo, independentemente da ação de cada um. Quer matar tanto soldados quanto jovens desarmados num festival de música, tanto adultos quanto bebês, tanto inocentes quanto criminosos.
Já Israel age conforme a tradição ocidental da responsabilidade individual. Persegue indivíduos que cometeram ou planejam cometer crimes contra cidadãos israelenses, sejam eles palestinos ou não. É verdade que, numa guerra, muitos civis serão vítimas, e que palestinos inocentes morrem nos ataques promovidos por Israel. Mas isso é considerado um dano indesejado, que motiva debates e investigações pelas cortes israelenses.
Por exemplo, em 2017 houve um escândalo nacional depois que um grupo israelense de direitos humanos revelou um vídeo da execução de um palestino desarmado. No vídeo, um soldado israelense de 20 anos atira em um terrorista palestino que já estava ferido e controlado. Depois de um julgamento que dividiu o país, o soldado foi condenado à prisão. Uma condenação similar seria impensável na Faixa de Gaza.
Como disse recentemente o filósofo e neurocientista americano Sam Harris, a própria prática de criar “escudos humanos” revela a diferença moral entre os dois lados. Terroristas do Hamas costumam montar suas sedes em hospitais e manter mulheres e crianças em depósitos de munição e locais de lançamentos de mísseis. Fazem isso porque sabem que o Exército de Israel evita matar mulheres e crianças.
A mesma atitude, tomada pelo lado de Israel, seria risível. Se o Exército israelense deixasse mulheres e crianças em posições-chave, daria um motivo a mais para o Hamas bombardeá-las. Os terroristas não se preocupam com a morte de judeus inocentes – pelo contrário, a desejam.
A tentativa de entortar o compasso moral é antiga. Adolf Eichmann, em seu julgamento de 1961, tentou equivaler o Holocausto que ele ajudou a realizar aos bombardeiros dos Aliados a cidades alemãs. Mas as duas ações estavam longe de serem simétricas. De um lado, havia exércitos atuando com o objetivo de fazer o inimigo se render e deixar de ser uma ameaça. Do outro, os alemães exterminaram judeus que já haviam se rendido, com o objetivo puramente de exterminá-los.
Na história do mundo, a ideia de que uma pessoa deve ser castigada e perseguida simplesmente por pertencer a um grupo social motivou genocídios e limpezas étnicas. Está na raiz do racismo contra negros, do antissemitismo, da perseguição a armênios, curdos, indígenas, católicos, protestantes e muitas outras etnias e comunidades. E está na raiz do Hamas, que em sua constituição defende a extinção de todo o Estado judeu.
Contra o perigo da perseguição coletiva, é preciso sempre reafirmar uma ideia um tanto óbvia, prevista na Convenção de Genebra: a de que nenhuma pessoa pode ser punida por uma ofensa que pessoalmente não tenha cometido. Relembrar a importância desse princípio ajuda a evitar confusões morais e falsas equivalências.
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