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Editorial: Lula sabia?
Trinta e três vezes: a Abin alertou o governo Lula trinta e três vezes sobre o risco de invasões à Praça dos Três Poderes.
É o que revelou o então chefe da agência de inteligência, Saulo Moura Cunha, em depoimento desta semana à CPMI do 8 de Janeiro. Ele próprio teria avisado por telefone e por mensagens diretas o general Gonçalves Dias, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Ainda mais grave, o ex-diretor da Abin afirma que o ministro do GSI pediu para ter seu nome retirado da lista de destinatários de alertas sobre a ameaça de invasão. Trata-se de um indício de fraude no relatório de informações oficiais enviado ao Congresso Nacional.
Parlamentares petistas tentam concentrar em G. Dias a responsabilidade por toda inépcia do governo federal durante o episódio, mas os trabalhos da CPMI despertam novas perguntas. A principal delas é: Lula sabia?
É razoável acreditar que G. Dias – homem de confiança e amigo pessoal de Lula há mais de 20 anos – ou representantes dos outros órgãos federais alertados pela Abin, não avisaram o presidente quanto ao risco de invasão? Quando decidiu voar de Brasília para Araraquara, às 14h do 8 de janeiro, o presidente não tinha conhecimento da ameaça aos prédios públicos?
Por que nem o GSI, nem o Departamento de Segurança Presidencial nem o Ministério da Justiça acionaram o Comando Militar do Planalto? A propósito, por que o ministro Flávio Dino se recusa a entregar as imagens do prédio do Ministério da Justiça no dia das invasões?
Se Lula não estivesse de lua-de-mel com o STF, a quebra de seu sigilo telefônico no 8 de Janeiro já teria sido decretada por algum ministro da Suprema Corte, assim como a de Flávio Dino e G. Dias. Do mesmo modo, haveria ordens judiciais para que as imagens das câmeras fossem logo liberadas.
A CPMI do 8 de janeiro dá duas lições ao país. A primeira é que não se deve criminalizar opiniões e suspeitas.
Meses atrás, o governador Romeu Zema chegou a ser alvo de interpelação no STJ e teve que prestar depoimento à Polícia Federal, por ordem de Alexandre de Moraes, por ter defendido a suposição de que houve “vista grossa” e uma “lerdeza gigantesca” na defesa dos palácios, numa tentativa do governo federal de posar como vítima de desordeiros.
Agora, as imagens das câmeras do Planalto e o depoimento do ex-diretor da Abin dão força às suspeitas de negligência proposital do governo.
A segunda lição é sobre a importância de investigar a conduta de autoridades. Na dúvida, parlamentares devem sempre optar por mais transparência, por cumprir seu papel de fiscalizar e investigar mesmo as figuras mais poderosas do Executivo e do Judiciário. Não fosse a comissão parlamentar, a sociedade brasileira saberia muito menos sobre o 8 de Janeiro.
Esta CPMI não pode acabar em pizza. Os deputados precisam realizar uma devassa na conduta de autoridades durante aquele domingo. A sociedade brasileira quer saber o que de fato ocorreu num dos dias mais tensos da Nova República.
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