5 ideias de Roberto Campos que permanecem atuais

18 de abril de 2024

Nesta semana, Roberto Campos (1917-2001) completaria 107 anos. Campos era um ferrenho defensor do liberalismo quando ser chamado de “liberal” era praticamente um xingamento. Por isso, decidimos relembrar cinco ideias do economista, escritor, diplomata, político e professor, que permanecem atuais e fundamentais para fazer o Brasil que merecemos.

Quem foi Roberto Campos?

Apesar de ser reconhecido como um dos maiores liberais brasileiros do século XX, Roberto Campos teve uma visão estatista durante a maior parte da sua vida. Mas tudo mudou quando ele entrou em contato com as ideias da Escola Austríaca, mais especificamente com o nobel de economia, Friedrich Hayek.

Campos nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, e veio de família humilde. Seu pai era professor e sua mãe era costureira. Na juventude, se formou em teologia e filosofia, e até ingressou no seminário.

Apesar disso, deixou a formação religiosa em 1937 e tentou alguns concursos, como escriturário e inspetor de ensino, mas foi reprovado. Até que, em 1939, aos 22 anos, ele se tornou diplomata após passar no concurso do Itamaraty;

Ele foi nomeado cônsul de terceira classe nos Estados Unidos e se formou em Economia na Universidade George Washington naquela cidade. Logo depois, foi promovido a cônsul de segunda classe e nomeado segundo secretário em Washington. Em seguida, ingressou na missão brasileira nas Nações Unidas em Nova York, onde fez pós-graduação em economia pela Universidade de Colúmbia.

Posteriormente, passou a fazer parte do grupo de assessores econômicos do presidente Getúlio Vargas e foi um dos criadores da Petrobras. Durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi um dos presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e teve importante papel no plano de metas.

Após o golpe de 1964, foi ministro do planejamento no governo de Castelo Branco e promoveu diversas reformas econômicas. Campos foi um dos criadores do Banco Central do Brasil, do BNDES, do Estatuto da Terra e do FGTS.

Roberto Campos se adere ao liberalismo

Acredita-se que ele tenha se tornado adepto do liberalismo no final da década de 70 e começo da década de 80. O ex-ministro da fazenda, Delfim Neto relatou a mudança repentina de pensamento do colega. “Um dia, na câmara, sem nenhuma razão, ele me disse: Delfim, perdi muito tempo. Só deveria ter lido Hayek“, contou.

Em sua época liberal, ele defendia a democracia, a livre iniciativa, a inserção do Brasil na economia global, a redução da máquina pública, uma reforma da previdência e uma reforma constitucional.

Por ser favorável às privatizações e ao livre comércio, seus críticos o chamavam de “entreguista” e “Bob Fields”, versão literal do nome do político em inglês.

Em 1982, Campos foi eleito senador pelo seu estado natal, Mato Grosso. Em 1990, concorreu a posição de deputado federal pelo Rio de Janeiro, sendo eleito naquele ano e reeleito em 1994. Roberto Campos morreu de infarto agudo do miocárdio em 9 de outubro de 2001, aos 84 anos, no Rio de Janeiro.

As ideias de Roberto Campos

Liberdade só existe com liberdade econômica

Campos defendia que a liberdade política e social só pode existir em um ambiente onde exista liberdade econômica. A história mostrou que o contrário é impossível: todas as experiências socialistas mostram que a economia controlada pelo estado só é possível quando as liberdades sociais e políticas são eliminadas.

Além disso, os países mais livres economicamente tendem a ser os mais democráticos. Basta observar que dos 10 países com maior liberdade econômica, segundo o Índice de Liberdade Econômica, oito são consideradas democracias plenas pelo Índice de democracia.

Estado mínimo

O Estado que atuava em muitas áreas, para Campos, seria ineficiente. Isso fica bastante evidente observando a realidade brasileira. Assim, o Estado deveria prover apenas o mínimo necessário para o funcionamento da sociedade.

De acordo com o economista, isso envolve educação básica, saúde, relações exteriores, justiça, segurança, defesa, garantir a livre concorrência e a estabilidade monetária. Analisando os países ao redor do mundo, percebe-se que Estados menos intervencionistas tendem a gerar maior crescimento econômico e qualidade de vida.

“Se o estado tivesse recursos e capacidade gerencial de sobra, ele poderia considerar expandir suas responsabilidades, mas isso não é o que acontece. O governo, querendo ser ao mesmo tempo assistente social, reitor, diretor e empresário, acaba fazendo mal todas as tarefas”, disse durante entrevista ao programa Roda Viva em 1997.

Flexibilização das leis trabalhistas

Campos defendia a flexibilização dos contratos de trabalho e da negociação salarial entre empregador e empregado. Ele inclusive, chegou a propor um projeto de lei a favor deste último tópico.

O economista era particularmente contra o salário mínimo por entender que esse “direito” trabalhista aumenta o desemprego. Nesse contexto, para Campos, a melhor forma de inclusão social é o emprego.

Além disso, aumentar o salário mínimo tende aumentar os custos para os empregadores, que por sua vez repassam esses custos para os consumidores na forma de preços mais altos. Isso desencadeia um ciclo inflacionário, onde os aumentos salariais são compensados por aumentos de preços.

Contra a estatização dos recursos naturais

Campos foi um notório opositor da estatização dos recursos naturais, principalmente do monopólio da Petrobrás sobre o petróleo. “Petróleo é apenas um hidrocarboneto e não ideologia”, dizia.

A estatização leva a uma gestão menos eficiente dos recursos naturais, porque as empresas estatais enfrentam menos pressão competitiva para melhorar a eficiência e a inovação. Isso inevitavelmente resulta em menor produtividade e maior desperdício de recursos.

Além disso, como já sabemos muito bem, verificando o histórico brasileiro, a gestão estatal dos recursos naturais está sujeita a corrupção e má administração. Afinal, o controle estatal cria oportunidades para o nepotismo, favoritismo político e falta de transparência na alocação de recursos e contratos.

Abertura da economia

Desde a época da colônia, o Brasil era uma nação protecionista e isso persiste até hoje. O Brasil historicamente manteve tarifas de importação relativamente altas, por exemplo.

Dados do Banco Mundial mostram que as tarifas médias de importação no Brasil eram de cerca de 10,2% em 2021. Assim, as taxas brasileiras só não eram maiores que as da Venezuela, considerando os países da América Latina. Até o socialismo cubano impunha tarifas menores.

Campos viu de perto o protecionismo se expandir durante a ditadura militar e se opôs a isso. Assim, ele defendia a abertura da economia brasileira para o mercado internacional.

Os benefícios da abertura comercial são inúmeros. A entrada de produtos estrangeiros no mercado, por exemplo, estimula a concorrência entre empresas locais e estrangeiras, o que resulta em preços mais baixos, maior qualidade dos produtos e maior inovação.

A abertura comercial também atrai investimentos estrangeiros, à medida que as empresas estrangeiras buscam acesso a novos mercados ou recursos naturais. Isso traz capital, tecnologia e conhecimento especializado para o país receptor.

O legado de Roberto Campos

Roberto Campos escreveu artigos econômicos para jornais durante muitos anos e se destacou como um personagem polêmico. Ao todo, Campos escreveu 19 livros e foi coautor em quatro obras. Além disso, em 1999, ele foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras.

Um de seus livros mais famosos foi a autobiografia “A Lanterna na Popa”. Na obra, ele descreve a história recente do Brasil e a história econômica mundial. Assim como, suas conquistas e observações sobre as personalidades que conheceu durante a vida.

Em sua época, Campos foi um dos únicos políticos defensores do liberalismo e chegou a apresentar diversos projetos de lei, mas nenhum foi aprovado. O economista Carlos Langoni afirma: “Roberto Campos lançou a semente do Estado mínimo no país, numa época em que o Estado era tudo na economia”.

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